Poeta Raimundo Nonato

domingo, 11 de abril de 2010

A casa que construí

Raimundo Nonato da Silva

A casa que construí
Tem uma bela estrutura
O reboco é de açúcar
Os tijolos raspadura
E o piso é de cocada
Rejuntado com qualhada
Minha casa é uma doçura

Cortei a sapata dela
Com puro queijo de qualho
Empurrei carne moída
Depois bati com o malho
E ladrilhei com batida
A minha casa querida
Custou-me muito trabalho

As colunas da minha casa
São feitas de mortadela
O radie de lingüiça
Arma a estrutura dela
O concreto é carne assada
A brita de carne torrada
Tem na minha casa bela

As linhas são de inhame
Os caibros de macaxeira
As ripas de mandioca
O seu teto é de primeira
Cobri minha moradia
Com bandas de melancia
Retelhei a casa inteira

Tem ária sala e cozinha
E um quarto muito bom
Pintei as paredes dela
Com suco de jerimum
As janelas são de tabocas
Enfeitadas com pipocas
A sua porta marrom

Travesseiro de tapioca
A cama é de algodão
Não tem cadeira nem mesa
Quem chegar senta no chão
Lá o nosso luxo é pouco
O prato é quenga de coco
E a colher é a mão



O sofá é de alface
Almofada é broa preta
A bandeja é de cabaça
Grande como uma maleta
Tem manga pinha e mamão
Eu só não chupo limão
Para não fazer careta

O quadro da minha casa
É uma italiana
Com suas capas de mel
Decora e deixa bacana
Minha casa é boa e linda
Sim o armador ainda
É um cacho de banana

Das casas paraibanas
É a mais linda que tem
Meus porcos comem pamonha
Meus pintos comem xerém
O gado capim e cana
Porque na minha chupana
Um pouco de tudo tem

Todo mundo passa bem
Quem for lá não se atrasa
Lá tem sombra e água fresca
E frango assado na brasa
Eu dou comida e bebida
Só não garanto dormida
Por ser uma pequena casa

Lá em casa tem uma gaiola
Que parece uma ilusão
Os palitos da gaiola
São feitos de maçarão
Quando o pássaro esta com fome
Come os palitos e se some
Mas não fica na prisão

Dentro de um casco de um ovo
Que um dinossauro pôs
Quando o outro foi chocado
Saiu pra fora depois
Eu que nunca dei vacilo
Fiz daquele casco um silo
Pra poder guardar arroz

No meu pumar tem de tudo
O meu quintal é pra frente
Eu plantei no meu monturo
Feijão e milho somente
O feijão o galo carrega
O milho a galinha pega
E quebra todo no dente

A lua clareia a noite
E o sol clareia o dia
A minha casa é no sitio
Lá tenho muita alegria
Ouviu senhor e senhora
Estou mais feliz agora
Porque minha burra deu cria

Lá eu sou muito feliz
Com a minha companheira
Bebo água de cacimba
Do açude e da ribeira
Trabalho e não me esgoto
E tem dia que eu desgot
O açude com a peneira

Eu subo e desço ladeira
Do sitio para a cidade
Já falei da minha casa
E minha propriedade
E se você admira
Não vá pensar que é mentira
O que nunca foi verdade

Nenhum comentário:

Postar um comentário